Muito se tem discutido nos últimos anos sobre o poder do meio digital para construirmos um ambiente de aprendizado que seja focado no aluno. O digital como ferramenta transformadora do aprendizado onde o aprendiz é criador, tem voz e audiência. Apesar do discurso otimista e das iniciativas que tenho visto neste sentido, de colocar o aluno atuante e ativo no seu próprio aprendizado, buscando informação, analisando, discutindo, concluindo e construindo, há ainda em nossa educação, de uma forma muito arraigada, a visão do professor-conteudista, o artista com sua platéia, em que a emissão de informação tem seu papel principal. Tenho presenciado muitas mudanças na direção da inclusão do aluno como participante ativo na construção do conhecimento, mas temos ainda um longo caminho a percorrer para evitarmos as armadilhas de nossa própria história como alunos e não termos recaídas, avançando, em vez de voltarmos para o porto seguro, o que conhecemos. Muito do que acreditamos favorecer o aprendizado é baseado em nosso passado e nossas próprias experiências de aprendizado. No entanto, o passado já não nos serve integralmente para um presente transformado, interconectado.
A nossa estória educacional como educadores deve ser re-escrita não apenas por nosso passado, mas em colaboração com os nossos alunos e suas próprias estórias e vivências. Não podemos pensar em um aprendizado que parta do nosso apenas, mas sim que esteja na interseção de nossa experiência e contribuição, mas principalmente na de nossos alunos. Sendo assim, não há como negar a forte presença digital e conexões em rede que permeiam a estória deles e não podem simplesmente serem ignoradas e deixadas fora da sala de aula.
Necessitamos de uma pedagogia focada no desenvolvimento do empoderamento, da ação (que ainda não é uma boa tradução com todo o peso que a palavra “Agency” traz em inglês) e da voz. Deixemos de subestimar todo o potencial criativo e produtivo de nossos alunos que urgem por uma nova pedagogia que já começamos a vislumbrar. Stephen Downes nos lembra que novas versões de modelos ultrapassados não produzem novos resultados. Muitas vezes, no entanto, nos imobilizamos por não sabermos por onde começar ou buscar essas mudanças necessárias, essa microrevoluções em nosso ambiente educacional. Comecemos pelo simples, por pequenas mudanças e reflexões sobre como elas impactaram nossas aulas. Talvez o inicio seja uma nova forma de iniciar a aula, ou terminar. Quem sabe um elemento surpresa durante a aula? Ou uma atividade que você não tenha tentado antes? Talvez pedir para os alunos usarem os celulares pedagogicamente para resolverem um problema? Um desafio com trabalho em grupo? Uma pequena mudança pode trazer grandes transformações em nossa pedagogia e nosso propósito de acordarmos toda manhã para exercermos o nosso papel de educadores.
Um simples exemplo também pode nos dar a direção para um passo mais ambicioso. E paro por aqui com uma ideia incrível da Faculdade Marista, nos Estados Unidos, desenvolvida com os alunos e para alunos. Os alunos da área de moda, tendo o suporte dos professores, criaram uma plataforma online aberta para alunos e qualquer pessoa interessada em moda. Nessa plataforma, os próprios alunos criaram um MOOC (Massive Online Open Course) sobre tendências fashion. Também na plataforma, eles desenvolveram um espaço colaborativo em que estudantes do mundo inteiro podem contribuir com imagens e descrição de tendências na rua, além de outras áreas que englobam o projeto The Fashion Online Learning Domain. Este é um super exemplo do aprendizado significativo que promove autonomia, empoderamento, ação, criatividade e voz para nossos jovens alunos. O que poderíamos aprender de uma experiência assim e trazê-la para a nossa realidade mesmo com um escopo menor, que não seja inicialmente um projeto tão ambicioso, mas que seja inovador, que traga frescor e entusiasmo para as nossas aulas?
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